Um dos meus programas favoritos, em Brasília, é visitar uma grande livraria não muito longe da minha casa. Tem um cantinho especial para as crianças e muita coisa para ler e distrair perfeitamente a mente de uma mãe e de seu filho. Às vezes compramos alguma coisa mas, na maioria das vezes, essa não é uma condição para tornar agradável o passeio.
Nessa tarde, em especial, estava com uma amiga. Amiga de verdade, daquelas com quem você faz cinco horas parecerem cinco minutos. Almoçamos num restaurante ao lado e, com a impaciência do meu enérgico garotinho de 4 anos, decidimos continuar a conversa na nossa querida livraria.
Sentamos no espaço infantil, muito confortáveis. Para o Noah é difícil diferenciar uma livraria de um parquinho, sobretudo se tem por perto outras mini pessoas. Rapidamente ele se enturmou, sentava com algum colega e acompanhava a leitura de um livro, ora eu lia pra ele, ora ele brincava com alguma outra criança. Fazia-se necessária a minha interferência de quando em quando no calor de alguma discussão infantil.
Assim, sofri o privilégio de conversar cerca de duas horas com minha amiga que há muito não encontrava. As crianças ao redor se ausentavam rapidamente e logo chegavam outras. Os pais, provavelmente estavam realmente de passagem pelo local. E eram eles que, muito carinhosamente, convidavam meu filho para se juntar aos deles e faziam alguma atividade em grupo. Eu também fiz e faço isso sempre que estou por lá. Acho mágico para os filhos únicos.
De repente mudou o grupo mais uma vez e chegou uma senhora com cara de mãe de cinco e sentou ao seu lado suas duas princesas. Meu príncipe logo se aproximou animado com a oportunidade de fazer mais amizades. Não demorou e a senhora escorraçou meu filho, que muito ingenuamente insistia na relação. Eu dei um toque de longe, que passou despercebido. Notei que era necessário agir para não comprometer o bem estar da senhora, aparentemente temendo ter comprometido o seu sossego quase instalado.
Falei mais firme uma, duas vezes, e a madame me olhou duramente. Aquilo mexeu com algo muito quente dentro de mim. Algum veneno foi derramado na minha corrente sanguínea e fervi por dentro. Havia algumas opções diante de mim: censurar duramente meu filho em público e o obrigar e abandonar sua intenção de se aproximar daquele grupo, ou, enfrentar a senhora na defesa do meu garoto.
Informei minha amiga sobre o que se passava ao redor e, com um sorriso no rosto afirmei que era hora de ir embora. Nos levantamos, chamei o Noah, insisti nisso, pegamos nossas coisas e saímos. Eu estava ainda ruborizada pela vibração acalorada do sentimento, mas, mais uma vez minha lenta reação me salvou de um típico barraco. O olhar da outra mãe foi tão real que quase me senti no lugar dela. Acho que entre as mães existe um pouco dessa solidariedade implícita, um pouco disso de dizer que tem um filho da mesma idade e se tornarem melhores amigas no minuto seguinte.
Gostaria de ter sido dura com aquela mulher, mas todas as opções nesse sentido exporiam meu filho. Não imaginei ser saudável para ele me ver protegendo-o de algo que ele nem notara. Quando ele arranja encrenca com os colegas, procuro sempre encorajá-lo a resolver direto com o amiguinho ou que prontamente perdoe a situação e siga a brincadeira, para o bem de todos. Acabei seguindo meu próprio conselho, confesso que muito sem querer. Fiz certo? O que você faria?
e lendo todos os posts, sem perder cada detalhe, me deparo com este…
me incui na história, vi a face intolerante da mulher e senti o rubor facial, a taquicardia e o desequilibrio emocional provocado
intolerância dela
e não intolerrância nossa
“resolver direto” o problema não necessariamente é abordar o provocador ou perdoar a situação
Criar uma terceira opção (sair dessa situação sem provocar contrangimento pra ambos) foi jogada de mestre
e as 5h sempre parecem 5 minutos…
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Sempre! 😄 Você foi testemunha!!!
Tem que ter sangue frio e muita paciência.
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