Iniciacão escolar

Começar na escola é um daqueles grandes desafios para uma família inteira. Todo mundo sofre um pouco, ainda que tudo ocorra na máxima tranquilidade. Se há dificuldades na adaptação, choro, resistência, aí a coisa complica horrores e não tem jeito de pular fora. Decidi dividir parte da minha experiência e também algumas dicas, poucas, simples,  mas que podem ser muito relevantes para quem vem na fila desse evento tão marcante na vida da gente. Pais, que como eu, vão precisar daquela forcinha.

O início na escola é um marco na vida de uma criança, encerra-se uma fase que não volta mais e começa uma outra que vai demorar pra terminar. Ela vai ter de ir a escola todo santo dia da vida dela até quando for adulta. Então, quando você compra todo o material, uniforme, prepara o lanche, disfarça o nervosismo, se obriga a entregar seu filho na recepção da escola com um sorriso no rosto, e ele chora desesperadamente, com medo, muito medo e olha para você pedindo socorro, você não pode fazer nada!

Acho que todo pai e mãe pensam nessa hora, “quem sabe a gente deixa pra amanhã ou semana que vem”. Mas não tem jeito. Vai ter que começar, e adiar não vai ajudar em nada, ainda que fosse possível. Existem quadros suaves sim, crianças que não choram na despedida e aceitam com muito entusiasmo essa nova fase. Acredito que essas são crianças acostumadas desde cedo à independência. Os pais geralmente trabalham fora, ou têm vários filhos, ou os pequenos já estão habituados a creches ou ao cuidado de babás. Ou, simplesmente pelo fato de os pais introduzirem essa nova fase com genialidade e maestria.

Síndrome do ninho vazio

Quando o meu filho começou definitivamente na escola, começou numa rotina pesada. São 7 horas na escola. O impacto foi real. Para ele e para mim. Eu confesso que sonhei com algumas horas vagas muitas vezes, eu que fui, até então, mãe full time.  Mas quando finalmente aconteceu, eu cheguei em casa e pensei, “meu Deus, o que eu faço com tanto tempo livre?”

Um dia só e você dá conta de preencher com tudo que não faz há muito tempo, ir ao mercado sozinha por horas, só pra curtir essa liberdade tola. Fazer coisinhas simples que há tempos não fazia sozinha, de burocracias no banco a sentar no sofá da sala e relaxar meia hora sem ser interrompida. Mas aí vem o dia seguinte, o próximo, de novo e aquele sentimento de culpa, “deixei meu filho na escola sozinho, está lá enfrentando esse desafio tão grande e eu aqui de boas?”

Foi quando percebi que a tal síndrome do ninho vazio não é uma coisa exclusiva lá para depois da formatura da faculdade, casamento dos filhos ou da partida para aquele mochilão de 6 meses que ele sempre quis fazer. Acontece cedo também, agora, quando você olha para a tranquilidade da casa e das horas que se seguem tão vazias.

Parece um pouco dramático demais, né? Me perdoem. Mas a verdade é que foi pior. Foi um engano achar que a adaptação na escola seria somente para ele. Precisei me moldar a essa vida nova, e isso levou algumas semanas.

Quando ele vai parar de chorar?

Meu filho começou maravilhosamente a primeira semana, muitas crianças, amiguinhos, professoras que o tratavam com todo o carinho, parquinho, um monte de atividades, mas parece que chegou uma hora em que ele sacou: “Espera aí. Acho que já chega. Quero ir pra casa.” Então ele começou a questionar e dizer que não queria mais ir a escola, mas que queria a nossa companhia. Apelando, muito sagazmente, às recâmaras profundas de um coração materno.

Um dia fui ansiosamente participar de uma atividade na escola, eu e vários pais, quando me despedi, ele agarrou na minha perna e não tinha quem tirasse ele de lá. Só se eu usasse a força e saísse correndo depois de bater a porta atrás de mim. Eu não tinha estômago – nem coração, para fazer uma coisa dessas. Era hora do pai agir. E esse tipo de coisa é trabalho de equipe mesmo, não daria certo, jamais, sem a participação do pai.

A professora tem um papel fundamental também. A do meu filho foi incrível. Ela dizia para ele, “Você tem duas opções: ir para a atividade e aproveitar ou ir chorando, mas eu não vou ligar para a sua mãe”. Um discurso coerente com o nosso de casa.

Alguns haviam me dito sobre duas semanas. Outros três. As professoras me disseram que seriam 3 semanas para ele virar a chave e encarar a vida nova. Dito e feito. Foram 3 semanas completas. Sendo que a primeira foi totalmente livre de estresses, no meu caso. Mas enquanto os dias passavam rolava toda uma estratégia.

Na prática – dicas

Grana  :: Pesquise direitinho antes, porque essa brincadeira de escola não é barata.

Traslado :: Programe-se para levar e buscar seu filho todos os dias nesse começo. As conversas no carro, o abraço, o beijo, o olhar de incentivo ao longe, serão jamais esquecidos.

Associação :: Ao conversarem sobre isso, lembre que o amiguinho fulano já está na escola ali perto, o primo mais velho que ele admira também. Associe o compromisso dele na escola ao dos pais que, após deixá-lo na escola, vão trabalhar, estudar e cuidar de suas próprias responsabilidades.

Lancheira :: O capricho no lanchinho é um detalhe importante. Explicar para ele o que vai para o lanche daquele dia, lembrar que foi feito com carinho e, claro, preparar de modo que ele se interesse, comidinhas que ele gosta, coisas coloridas, potinhos bacanas, etc.

Agrados :: Sem exageros mas levar uma lembrancinha, um biscoito, um brinquedo que ele gosta na hora de buscar na escola ajudam a manter o clima suave, a conversa animada, afastando a conversa mole e as possíveis reclamações.

Responsabilidade :: Parece duro dizer, mas a escola é uma responsabilidade para uma criança mais crescidinha. Eles amam parecer maiores e dizer a idade assim que fazem aniversário, mas o crescimento traz consigo responsabilidades, ajudar em tarefas mais desafiadoras em casa, entender melhor como funciona a vida e tal. Ir a escola é uma dessas responsabilidades e ele precisa encarar isso.

Acessórios :: Acho que todo adulto lembra com carinho da sensação gostosa que era inaugurar o material escolar a cada ano. Estojo, canetas, lápis, borrachas coloridas, livro novinho. Participar nesse processo da compra de material, ou apenas ser apresentado a ele em casa, já cria uma expectativa positiva a respeito da escola.

Emocional :: Pais ansiosos, chorosos demais, negativos, tem filhos ansiosos, medrosos e excessivamente emotivos. Pai e mãe precisam se esforçar para lidar com a máxima positividade sobre o assunto escola. Ainda que o coração esteja se desmanchando, essa é uma grande vitória, um privilégio até, não ignore seus sentimentos, mas priorize os mais importantes, seja positivo!

Meu filho está há um mês na escola, hoje eu vou buscá-lo  ao final da aula e preciso insistir pra ele vir embora. Nunca achei que esse dia fosse chegar, eu até dava risada quando diziam que ia passar, pensava, “é porque não é com você”, mas passou. Ele lidou com o desafio e cresceu. Eu também. Agora é segurar a onda porque faltam só 20* anos de sala de aula, isso se ele não avançar para a pós-graduação, mestrado…

*do maternal ao quarto ano de faculdade

 

Jeanne Moura

Jornalista, mãe do Noah, esposa do Manolo.

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Um comentário sobre “Iniciacão escolar

  1. Amiga, o Ben na primeira semana amou e assim sempre foi.
    Hoje, que ele não está na escolinha, pede todo dia pra ir na escolinha.
    Sou uma mãe que ama absurdamente, cuida loucamente mas também uma mãe desencanada, então isso ajudou demais.
    Deixava ele lá feliz da vida e confiante de que ele iria amar e amou. Nunca tive nada disso de: Oh e agora, chegou o dia da escolinha… E agora… Não sei Pq mas sou assim e isso ajudou demais, e olha que o Ben foi pra escolinha com 1 ano e 6 meses (por falta de amigos, lugar para passear, tédio, só convivia com adulto…)
    Mas é realmente isso, tudo passa, a gente se adapta a tudo na vida e agora vc e o Noah estão felizes e contentes 😘

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